quarta-feira, 21 de setembro de 2011

O homem apenas enxerga a sombra do céu!

Este post trata de um assunto teoricamente um tanto quanto obsoleto, do ponto de vista jornalístico, em que no dia seguinte a notícia já não importa mais, no entanto, no que se refere à vida, e aos temas realmente crucias de se abordar a fim de se viver melhor, o tema é fundamental de ser discutido!
É mais um post que revela minha total perplexidade diante da euforia humana no que tange à violência. Estamos tão próximos da barbárie e, no entanto, houve comemoração!! Como assim???
A princípio pensei ter escutado mal. Decerto algum tipo de alucinação daquelas que acometem os ingênuos e sonhadores. Qual nada, era a mais desconcertante realidade.
Caso ainda não tenha sido clara, me refiro à morte de Osama Bin Laden. Mais precisamente a respeito do circo que se formou em torno deste fato.
Começo minhas reflexões com muitas perguntas e quase nenhuma resposta. Que direito têm os EUA de julgar, matar e se livrar do corpo de um ser humano da maneira como agiu? Bin Laden era diferente de qualquer outro indivíduo do ponto de vista dos seus direitos? Por que sua família não pode lhe dar um funeral digno? Por que ele não foi preso, por que não teve direito à defesa, não foi julgado dentro dos mesmos princípios de lei que supostamente regem o mundo?
Imagino que alguém a esta altura está me achando ainda mais ingênua e eu me defendo afirmando que não se trata de viver no mundo da lua mas sim de crer que todos, sem exceção, todos merecem o mesmo tratamento por parte da Justiça e do Estado, independente de suas atitudes, crenças, posições políticas ou classe social.
Isto está na lei!
E por que não aplicou-se a lei? Quem decidiu em seu nome? Homens baseados em princípios militares, em nome da aclamada segurança. E sendo assim, absolutamente propensos a cometer os mesmos erros que os ditos assassinos.
Ora, então condenar alguém a um destino cruel, à morte, à tortura, à prisão perpétua, a ser jogado no mar – caso de Osama, ou mesmo enforcado num ato bizarro - como foi com Sadan Hussein, não seria se igualar em maldade ou no mínimo em falta de sensibilidade pela vida humana, tanto quanto os réus condenados?
Quem de nós tem o direito de determinar o momento que um ser vivo deve desencarnar? Quem de nós, homens, no auge de nossa pressa em condenar, impaciência no trabalho, incoerência, intolerância no trânsito, busca desmedida por dinheiro, ausência de valores e de base familiar, desrespeito total ao próximo e extrema falta de fé, é capaz de dizer, com sabedoria o que um ou outro merecem?
Definir a hora que o outro deve pagar suas dívidas terrenas com sofrimento e humilhação? Quem de nós tem discernimento para isso?
Existem leis, pois que se cumpram!
Ainda que imperfeitas, pois demonstram a tentativa da humanidade em se ajustar aos acontecimentos. Porém a pena de morte é algo tão injustificável que não permite que se diferenciem os assassinos réus dos assassinos do outro lado da bancada, ou seja, quem é pior? O que matou ou feriu por ódio, por loucura, por revolta, ou aquele que sentado em seu gabinete, sem nenhum motivo que o valha, apenas com uma caneta mata alguém que nada lhe fez? (e neste caso não faz diferença que o indivíduo tenha cometido muitos atos criminosos, os direitos são os mesmos!)
Pos acaso a gravata lhe dá esta prerrogativa? Talvez, assim como a arma seja a prerrogativa do criminoso!
A mim tanto faz se tratar de Osama ou de Sadan, embora em momento algum de sua história tenha eu concordado com quaisquer de seus atos. Da mesma maneira não me importa se nos presídios se encontrem assaltantes, maníacos, etc. Ainda assim isto não me parece motivo para que estes indivíduos precisem tomar banho frio mesmo no inverno (e aqui no sul nós sabemos o que isto significa), não ter onde dormir, viverem amontoados feito uma colônia de formigas ou cupins, e não receberem alimentação digna. Isso sem falar nas pancadas, agressões verbais e de toda a ordem, etc.
No que isto ajuda a edificar um homem? No que isto contribui? Esta resposta eu sei: em NADA. Isso gera mais e mais revolta, ódio, desejo de vingança, e mais intolerância. E no que isso ajuda a fazer evoluir a sociedade? O que traz de benefícios para o convívio e o bem estar? NADA outra vez!
Para não ser injusta com as formigas ou cupins, estes formam uma sociedade extremamente organizada, apesar de antidemocrática em um primeiro olhar, mas todos vivem de acordo com sua natureza, cumprindo aquilo para o que foram destinados. E nós, que desenvolvemos ao longo de uma história nada simples, um amplo código moral e social, respaldado por ciências complexas e seus compêndios extensos, cujo valor parece estar mais voltado à forma que propriamente ao conteúdo. O que fizemos disso tudo? Outra vez NADA!
Mataram a palavra!

É como sinto agora, ouvindo tamanha barbárie. Me sinto tão empobrecida como ser humano, tão enfraquecida enquanto ser pertencente a uma organização social que nega em atitudes o que hipocritamente grita em teoria.
Me sinto ofendida ao ver nas ruas uma boa parcela de população a comemorar a morte, a desgraça, a humilhação de uma criatura que assim como todos nós merece o perdão, merece o esclarecimento a respeito de suas atitudes equivocadas que causaram sofrimento. A punição extrema não ajuda um rebelde a ter compaixão, nem ameniza a revolta que lhe impede de enxergar a realidade.
É certo pensar que a cada um será dado conforme a sua obra. Que talvez os seres que agem somente para o mal acabem por receber de volta boa parte desse mal. Mas não cabe a nós, homens, julgar. Não nos pertence esta decisão! Não fomos promovidos a Deuses, a menos que me tenha falhado a memória.
O que estamos fazendo com nossa liberdade de expressão? Saudando o ódio e abraçando a antiga lei “Olho por Olho, Dente por Dente”.
É a barbárie, sem dúvidas!
Voltamos à Idade Média. Talvez falte pouco para termos forcas e guilhotinas nas praças. Até falei nisso em outro post – aquele sobre o vestido e a intolerância dos estudantes.
Parece tema recorrente? Por que será? Por que nos acostumamos com a vingança, com o mito do bandido e do herói. O bom e o mau, quando na verdade somos um pouco de cada um, tão somente movidos por escolhas diferentes.
O terrorismo não acaba por que morreu um líder – mais simbólico que efetivo - assim como as ocupações “necessárias” e as guerrilhas não cessam quando ocorrem baixas, e isso por que alguém tem que lucrar com o comércio de armas, entre outras coisas. Os motivos estão muito além das alegações meramente religiosas ou simplificadamente políticas. No caso em questão, as mortes foram queima de arquivo, foram uma resposta em tom de ameaça. Muda o quê mesmo? Aumenta o índice de popularidade de um, respalda as intenções e os gastos de outro. Em suma, todos saímos perdendo em termos de diplomacia e de ética. Olha só a palavra que eu estava esperando aparecer: ÉTICA. Por onde andavas afinal??
E assim caminha a humanidade, olhando para o chão, vivendo de admirar a sombra do céu, se mantendo, desta forma tão distante de Deus!
Enquanto precisarmos de fatos deprimentes e depreciáveis como estes para sentirmos um gozo provisório ou um prazer temporário, seremos como insetos dentro de um frasco de vidro, crentes na liberdade, quando na verdade, sequer enxergamos de forma clara o que se passa do lado de fora do vidro embaçado, mas nos contentando em poder voar em círculos, sem, no entanto, sair do lugar.

quarta-feira, 13 de abril de 2011

O Beijo e o Sagrado

Não gostaria de falar do beijo apenas por que hoje é o dia do beijo, assim de maneira simplista, como fosse um assunto qualquer, daqueles que não merecem maiores considerações. Ao contrário, esse assunto rende um tanto, por isso quero falar tudo o que penso, só para variar. Para nós encarnados existe a necessidade do corpo feito de matéria, ideal para a vivência aqui na Terra. Por este motivo, a meu ver, o corpo é algo sagrado por ser ele a casa do espírito. E sendo assim, tudo que se refere a ele deve ser também sagrado do mesmo modo. A comida saudável – e por isso ser vegetariana, a bebida saudável, hábitos saudáveis, e por que não, sexo saudável. O que seria sexo saudável? A meu ver é aquele que se faz com quem se ama, em uma troca intensa de energias positivas, com o pensamento elevado de modo que ao final, a sensação de paz e felicidade seja completa.

Minha ideia não é falar sobre sexo, mas sim de tudo que envolve as relações humanas, e eis que surge a questão com o tal dia do beijo então aproveito para tocar no assunto a fim de recompor meu raciocínio. Continuando... muitas pessoas entendem o sexo, o beijo e o toque como algo banalizado. Se faz sem pensar e ponto, simplesmente por que todo mundo faz, ninguém tem nada a ver com isso. Casais que se conheceram ontem já dizem te amo, assim, sem mais. Aqui também se incluem aqueles que costumam dividir a intimidade na rua, se agarrando voluptuosamente para quem queira ver.

Outros por uma questão religiosa abominam a ideia ou se sentem culpados por terem desejos. Alguns são absolutamente fechados ao toque, não abraçam nem os familiares. Há os pais que nunca beijam seus filhos, que por sua vez jamais beijarão os seus e assim sucessivamente em uma teia de desafetos, sendo perpetuada por gerações.

Detesto fazer julgamentos porém não posso ficar em cima do muro, então ouso dizer que ambas visões são limitadas e equivocadas.

Amor é para ser dado, doado, entregue, e seja lá mais o que e como tenha de ser. Mas é preciso envolvimento e responsabilidade. Não amamos de um dia para o outro. Quem diz que o faz provavelmente não se conhece, tampouco ao amor. As entregas sem sentimentos geram energias perturbadas, desgaste psíquico e espiritual e quase sempre nos trazem dores de cabeça.

Por outro lado, o medo de amar e de se entregar a um sentimento ou relação gera frustrações, neuroses, e igualmente, complicações. Sem perceber a pessoa vai se tornando amarga, mesquinha, invejosa em ver a felicidade alheia.

Nem 8 nem 80 – o caminho do meio é sempre o ideal. Em esferas mais elevadas, onde os seres não necessitam de um corpo material pois se encontram em um patamar mais evoluído, não existem problemas desta ordem. No entanto, aqui na Terra a única forma que encontramos de nos relacionar foi através do toque, da carne. Eu costumo brincar dizendo que o ser humano só sabe viver se for amando a tudo visceralmente, e faz um certo sentido.

Somos trazidos ao mundo dentro do ventre de nossas mães, ligados a ela literalmente por laços de sangue. Nascemos nele e dele. Este corpo precisa sentir, tocar, beijar, amar. Só assim, com o contato físico é que realizamos e vivenciamos nossas emoções. Conseguimos, desta forma, levar os estímulos ao cérebro que processa essas emoções e nos dá a sensação química de felicidade. E é claro que felicidade vicia. É por isso que faz bem beijar e abraçar, ou mesmo segurar as mãos de quem se gosta.

Mas nem só de química vive o homem. Sem equilíbrio, bom senso e maturidade podemos não perceber quando um grande momento acontece, enquanto permanecemos buscando a felicidade em relacionamentos fugazes e vazios, que não nos acrescentam de bom para a vida.

Como disse antes, nem 8 nem 80. Não devemos esquecer que é a mente quem controla o corpo e não o contrário. Não devemos ser escravos de nossos desejos. Tudo que é demais faz mal ao corpo e ao espírito. Saber se relacionar de forma saudável, se respeitando e respeitando o outro, respeitando seus limites e os do outro é fundamental. E definitivamente, expor a intimidade não é ideal porque a nossa liberdade acaba quando começa a do nosso próximo.

Quanto à falta de afeto, de envolvimento e mesmo a abstinência sexual parcial ou total forçada, creio que o ideal é entender que estamos sujeitos a sofrer a cada passo dado, não há fórmulas nem ensinamentos que nos livrem de decepções. O equilíbrio na hora de se relacionar nos ajuda um bocado.

Não é justo atribuir ao outro a culpa por nossa impossibilidade de entender o sentir, o sofrer e o se relacionar. Estamos aqui para aprender, sempre, até que cheguemos no mais alto grau evolutivo. Pouco provável que seja na Terra, mas é um caminho por onde precisamos passar e o corpo é parte primordial desse processo.

Quanta discussão por conta de um beijo...

Não sei quem inventou este dia, ou por qual propósito. Quisera eu que não tivesse apenas um motivo comercial por trás, e sim que pudesse ser um dia para que exercitássemos o beijo no sentido sagrado, como o abraço. Um dia para se comemorar o afeto, o bem querer, o carinho. Apenas o que há de bom de mundo, e graças a Deus há um tanto de coisa boa no mundo.

Temos muito que comemorar!




imagem: google - não encontrei a autoria, quem souber avise por favor!

sábado, 9 de abril de 2011

IML - Imperceptível Miséria Lamentável

Nesta última sexta vi em um telejornal mais uma daquelas notícias bem cabeludas, difíceis de se esquecer. Seria bem cômica se não fosse bem trágica. É a respeito da situação periclitante do IML de Fortaleza. As imagens são absurdas. Os corpos estão amontoados, esperando por perícia, em macas, caixões de metal, alguns vestidos, alguns nus, alguns com a roupa íntima bagunçada, talvez em função de serem movidos, enfim, o caos.

Ao lado deles é possível ver facas (tipo de açougueiro), serras (tipo as usadas em casa mesmo quando se pretende consertar um cano), ou seja, nada que lembre, ainda que de longe, o material adequado para se fazer necropsia em um ser humano, independente de estar morto ou não. E não digo isto em tom irônico. Somos humanos mesmo quando desencarnamos e, portanto, merecemos respeito!

O lugar está pedindo socorro, as salas estão sujas, paredes com reboco caindo, entre outros problemas. Em se tratando dos vivos, trabalhar neste lugar também está terrível. Tornou-se perigoso à saúde permanecer ali, porque há o risco de se contrair meningite, hiv, e uma série de complicações causadas por bactérias.

Mas o pior está por vir: há corpos do lado de fora - não do lado de fora da sala como alguns possam pensar, e sim na rua mesmo! No pátio! São os corpos que estavam congelados e precisam ser “descongelados” sob o sol, com grandes chapas de metal em cima para aquecerem mais rápido, de modo que se possa efetuar a autópsia. A vizinhança é obrigada a conviver com o odor dos corpos já em estado de putrefação e com as imagens dantescas, uma vez que o pátio do IML não parece ser isolado com muros. É a cara do Brasil! Brasileiro sofre até depois de morto – e não é piada!

O registro das imagens foi feito em janeiro deste ano, mas segundo o sindicato dos policiais civis até agora nada mudou. A explicação é a seguinte: o local filmado é onde funciona (???) o Sistema de Verificação de Óbitos em Fortaleza, órgão responsável em verificar os corpos de pessoas que tiveram morte natural, porém o IML está em obras e as autópsias necessárias para casos de morte por meio de violência também estão sendo feitas no tal sistema de verificação de óbitos, ou seja, o que já era precário ficou ainda pior! O perito geral do IML alega que a perícia Forense segue funcionando normalmente e que, sendo assim, para ele houve apenas um caso de super lotação. Simples não é mesmo? É um homem prático ele. Admirável! Seria um caso de super lotação se a mãe dele estivesse lá? Duvido.

O Ministério Público já está a par da situação e, portanto, tomando providências. Resta-nos saber até quando isso irá continuar acontecendo. Estar em obras eu compreendo, imagino que seja difícil organizar um lugar quando se está fazendo reformas, mas nada justifica o ocorrido. Não se tratam de materiais que podemos trocar de sala ou jogar na rua, mas sim de corpos de pessoas que têm família, que têm outras pessoas esperando por notícias, sofrendo, chorando, desejando ter seu ente querido para um funeral, uma última prece, uma despedida digna!

Não se respeita o nascimento por aqui. As mulheres são mal tratadas no SUS(TO), desde o pré-natal, até o parto. Não há respeito. Não há vagas nos hospitais. Quantas ganham seus filhos dentro de táxis, ou mesmo no saguão por falta de leito. Quarto privativo e marido que possa assistir o parto são fantasia ou coisa de quem pode pagar(como tudo por aqui). Mas isso já é assunto para outro post. Apenas falo sobre isso por que se não há respeito ao nascimento como vai haver respeito à morte?? ‘Já foi, já era, tanto faz, antes ele do que eu’...tudo piada, tudo muito engraçado, pra bobo rir!

Eu aqui, até agora tentando achar graça para ver se consigo uma risadinha também, uma risada pelos impostos que pago e que não vejo utilidade alguma para tanto dinheiro arrecadado, uma risada pelas eleições e pelas promessas por saúde e amparo à sociedade, uma risada pelas ‘autoridades’ (i)responsáveis neste caso, uma risada pelo perito e sua percepção metálica, uma risada para não chorar diante de tamanha desconsideração por este povo já sofrido, mas não deu!


Está decretado, não se pode morrer em Fortaleza!



imagem: O Grito - Edvard Munch - Noruega - obra revelação do Expressionismo

Vídeo Fonte: http://noticias.r7.com/videos/imagens-mostram-o-descaso-das-autoridades-no-iml-de-fortaleza-ce-/idmedia/eef3df37aaaf936a402513b19e45e92d.html

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Quando a palavra nasce

E o mês das mulheres passou. Desejei muitíssimo postar um texto em homenagem às mulheres que admiro, mas na impossibilidade de organizar um texto como eu gostaria preferi deixar para um momento em que o tempo não se fizesse carrasco. A escolhida para este post foi a americana Emily Dickinson (1830-1886), bastante conhecida por poetas brasileiros como Manuel Bandeira, Augusto de Campos, Décio Pignatari, Paulo Henriques Britto, entre outros, que já traduziram alguns de seus poemas por aqui. Era natural de Amherst, Massachusetts, onde viveu toda sua vida. Sua família tinha recursos. O pai, Edward Dickinson era advogado, e a mãe, Emily Norcross Dickinson era poeta. Por conta disso ela recebeu a melhor educação possível em sua época, em se tratando de uma mulher. Cursou a Amherst Academy, fundada por seu avô Samuel Fowler Dickinson, e depois o seminário Mount Holyoke Female Seminary, South Hadley, no mesmo Estado, mas ao se recusar declarar sua fé publicamente, o abandonou. Consta que nunca casou-se, no entanto foi apaixonada por um ministro religioso chamado Charles Wadsworth, que era casado, e para quem escreveu inúmeros poemas de amor. Quando ele foi embora para a Califórnia ela teria passado por uma grande crise emocional e escrito ainda mais, um total de 66 poemas neste período. Iniciou seus escritos por volta dos vinte anos. Ganhou fama de excêntrica, estranha, porque quando tinha cerca de 30 anos teria se encerrado na casa dos pais de onde nunca saía, retirando-se quando chegavam visitas, além de apenas usar roupas brancas, como costumava ser vista andando pela casa e pelo jardim, completamente avessa ao contato social, vivendo a escrita e a leitura intensamente. Não poderia ser diferente. Suas idéias e convicções iam contra uma série de preceitos, sem os quais uma mulher jamais poderia viver.

A forma como mais se soube a seu respeito foi através de suas cartas. Escrevia muitas. Provavelmente esse foi o jeito que encontrou de fazer parte do mundo, uma vez que, tal como era, não lhe era permitido fazer. Trocava muitas cartas com amigos seus, como Susan Dickinson, sua cunhada e vizinha; colegas de escola; familiares e alguns intelectuais como Samuel Bowles e T. W. Higginson, entre outros, o que certamente não era visto com bons olhos. Imaginem uma mulher naquele tempo conhecer, ser amiga e se corresponder com homens, sendo alguns casados. Ela afirmava que seus amigos eram propriedade sua e que eram fundamentais para a sua produção artística.

Apenas sete de seus poemas foram publicados enquanto viveu, no entanto, o número aproximado seria algo em torno de 1800. Todos escritos na clausura. Outro traço marcante em sua escrita era a linguagem inovadora, formas originais de expressão, incluindo pontuação particular, com uso de travessões, diferenciando-a dos poetas de sua época, e segundo alguns analistas, era sua maneira de marcar o ritmo.

Morreu no dia 15 de maio em Amherst, sua cidade natal, de onde nunca se afastou. Próximo de sua morte, teria pedido que sua obra fosse queimada, contudo sua irmã contrariou seu desejo póstumo. Lavínia Dickinson publicou uma antologia com o título Poems by Emily Dickinson que teve grande êxito e foi reeditada repetidas vezes.

Após sessenta anos uma nova coletânea com mais de 1.700 poemas foi editada por Thomas Johnson. Ao tomar conhecimento de sua obra, a crítica passou a ver nela uma das mais puras vozes líricas em língua inglesa do século XIX. Depois foi publicada sua correspondência e uma edição completa de suas poesias, mantendo a pontuação e o estilo tipográfico originais.

Ainda não encontrei o tempo adequado para pesquisar mais a fundo a vida de Emily, mas é dito que sua poesia é perene, e a mim é assim que parece.

"A primitiva simplicidade de suas estrofes se equilibra com audaciosa complexidade sintática e rítmica, além de flexibilidade no uso das rimas. Seus temas incluem as questões essenciais e existenciais do ser humano..." (Andre C. S. Masini - site Casa da Cultura)

De acordo com o que li, os editores costumam separar seus poemas por temas como Vida, Amor, Natureza, Morte, Tempo e Eternidade. Sua obra foi publicada somente depois de sua morte – novidade hein? – em 1890, 1891 e 1896, e apenas em 1955 foi lançada uma edição de sua poesia completa. O site American Poems tem cerca de 1775 textos disponíveis na rede, é só saber traduzir e ter uma ótima tarde.

Eu que estou com meu inglês meio capengando devido à ferrugem, prefiro ler os traduzidos, e para não dar a falsa impressão de egoísmo, dividirei com todos o primeiro poema dela que eu li e que me arrebatou. Daquele momento em diante jamais seria capaz de esquecê-la:



Uma palavra morre

ao ser pronunciada

(é o que se diz)


(flor que se cumpre

sem pergunta)


digo que é nesse

exato dia

que ela começa

a viver



(Alguns Poemas. Ed. Iluminuras. 2006)



Há outra versão deste poema que eu achei em um site, mais resumida, porém igualmente linda. Também deste site eu peguei outra linda para compartilharmos:



249


Noites Loucas — Noites Loucas!

Estivesse eu contigo

Noites Loucas seriam

Nosso luxuoso abrigo!


Para Coração em porto —

Ventos — são coisas fúteis —

Bússolas — dispensáveis —

Portulanos — inúteis!

Navegando em pleno Éden —


Ah, o Mar!

Quem dera — esta Noite — em Ti

Ancorar!


(Tradução: Paulo Henriques Britto)




vale conferir:








imagem: google

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Série Crônicas – No ônibus tudo pode acontecer (1)

A Bermuda


O ônibus não estava muito cheio. Ela ouvia Elvis no mp3. Feliz por estar sentada, o que já era algo bem promissor em um pinga de Viamão. Mas não era tão promissor quanto o menino sentado mais à frente. Conforme as pessoas iam descendo sua visão ia captando melhor aquela bela imagem. Ouvindo fone também, jeito tranquilo, bem bonitinho mesmo. Ela seguiu com suas músicas, a viagem seguiu em frente... lá pelas tantas ele se levantou. ‘Vou vê-lo melhor’, pensou ela. Ah que decepção! Ao se aproximar, pode observar a bermuda de tactel que ele usava. Definitivamente era algo que não fazia parte do que considerava, digamos assim, atraente em alguém. Na verdade não fazia parte de nada. Aquela peça pavorosa não se encaixava com nada mais do que era usado por ele. Era uma bermuda E.T. Totalmente fora de propósito. Foi um balde de água fria na sua manhã que pouco antes tinha cara de novidade. Aquela ‘coisa’ era de um mal gosto insuperável e impossível de se deixar passar em branco. Em branco ficou ela. Poxa, ele era mesmo bonitinho, mas o visual não rolou. A porta do ônibus se abriu, ele deu uma olhada básica. Normal, os homens jamais se privam de olhar. Ela fez cara de quem não entendeu nada, tipo: eu te conheço? Ele não se abalou, é claro. Para todos os efeitos, também apenas observava os demais passageiros. Ela aumentou o volume do seu player, ‘prefiro o Elvis’, pensou consigo. ‘Elvis é tudo, e de quebra, jamais o vi usando bermudas. De tactel então, nem se comenta!’



imagens: google imagens

terça-feira, 22 de março de 2011

Indiscutivelmente... Elvis (parte 2)

Essa música é tão especial, não somente por ser do Elvis (e isso já é um grande motivo para amá-la), mas por ser do Elvis e por ser uma das músicas mais românticas que ele teve a felicidade de cantar e que, de todas, é a minha preferida... ela é a que eu mais canto para o meu bem, uma, duas, três vezes, e ainda ouço no player quando estou no ônibus enquanto agradeço profunda e intimamente a Deus por ter me dado o privilégio da audição, que me permite sonhar, que me permite desligar os outros sentidos, a meu ver menos importantes, e assim sendo, me permito apenas ficar pensando no meu amado, todo o tempo... Elvis e eu, cantando para ele.




Let It Be Me

God bless the day I found you
I want to stay around you
And so I beg you
Let it be me

Don’t take this heaven from one
If you must cling to someone
Now and forever
Let it be me

Each time we meet love
I find complete love
Without your sweet love
Tell me, what would life be?

So never leave me lonely
Tell me you love me only
And that you’ll always
Let it be me


domingo, 13 de março de 2011

Pão recheado de banana

Eu tenho tanto assunto para tratar que acabo me esquecendo que este blog também foi feito com a intenção de mostrar às pessoas que as comidas vegetarianas, sem carne e sem ovos (no meu caso) são deliciosas, ao contrário do que pensam alguns mal informados! Para provar o que estou dizendo, deixo a todos uma receitinha bem boa para fazer no domingo, perfeita para ser acompanhada por um copo de suco ou uma xícara de café bem quentinho - descafeinado é claro!


massa

3 e 1/2 xícaras (chá) de farinha de trigo
1/2 xícara (chá) de farinha de trigo integral
1 colher (chá) de sal
1 xícara (chá) de leite
1 tablete (15g) de fermento biológico
1/2 xícara (chá) de açúcar mascavo
5 colheres (sopa) de manteiga


recheio

3 bananas-nanicas grandes picadas em rodelas
2 colheres (sopa) de suco de limão
1/2 xícara (chá) de uva passa

Modo de Preparo:
Massa: peneire os dois tipos de farinha com o sal e reserve. Numa panela, amorne o leite. Despeje-o numa tigela, junte o fermento biológico e o açúcar e misture até dissolver o fermento. Junte 1 xícara (chá) de farinha de trigo e misture até ficar homogêneo. Cubra a tigela com o filme plástico e deixe descansar, em local aquecido, por 40 minutos, ou até dobrar de volume. Em seguida, adicione 4 colheres (sopa) de manteiga amolecida e misture. Incorpore, aos poucos, o restante da farinha de trigo, amassando bem. Transfira a massa para uma superfície enfarinhada e sove por 5 minutos, ou até ficar lisa, desgrudar das mãos e formar bolhas. Coloque a massa novamente na tigela e cubra com filme plástico. Deixe crescer, em local aquecido, por 40 minutos, ou até dobrar de volume. Recheio: coloque em uma tigela as bananas, regue-as com o suco de limão e deixe descansar por 10 minutos. Em seguida, escorra o suco de limão e reserve as bananas. Montagem: coloque a massa em uma superfície enfarinhada, abra-a com um cilindro no formato de um retângulo (38cm X 42cm) e distribua a banana e a uva passa. Enrole a massa como um rocambole e corte em rodelas de 6cm de largura. Com a manteiga restante, unte uma assadeira redonda com furo no meio de 25 cm de diâmetro e polvilhe farinha de trigo. Disponha as rodelas da massa uma do lado da outra, formando um círculo. Reserve. Bata rapidamente o ovo numa tigela e pincele a massa. Deixe crescer, em local aquecido, por mais 30 minutos. Cerca de 10 minutos antes de assar, ligue o forno à temperatura média. Leve o pão ao forno por 30 minutos, ou até assar e dourar.



Categoria:Torta, pizzas e pães
Cozinha: Brasileira
Temperatura: Frio
Dificuldade: Difícil
Tempo de preparo: 40min +1h50min de descanso + o tempo de forno
Rendimento: 12 fatia











quarta-feira, 9 de março de 2011

A devastadora solidão de se viver em grupo.

Ora essa, agora não falta mais nada! Para quem ainda tem alguma dúvida de que a sociedade está doente, PARE e LEIA.

Dia destes os jornais noticiaram a patética festa de casamento do filho mais velho da patética família real britânica. Não bastasse isso já ser um absurdo por si só – existir rainha e príncipe no século 21 – ainda tem toda a estória da cerimônia com convite folheado a ouro e blá, blá blá... Imagina! Em um mundo de miseráveis eles deveriam se preocupar em dar o exemplo da elegância sendo ecologicamente corretos e pregando, bem como praticando, o consumo consciente sem desperdício. E eu deveria ganhar o troféu de sonhadora do ano.

Mas não é tudo (parte 1): foram 1.900 convidados só para a igreja. Sim, é isso mesmo, eu não errei o número nem seu óculos deu tilt. A cafonice é algo! Destes 1.900, somente 300 poderão ir à janta/festa dos noivos – ai que vexame! Esbanjam por um lado, são pão duros por outro? Será que é isso? Lamento mas ninguém vai me convencer de que isso é chic, jamais.

Onde já se viu chamar alguém a uma cerimônia, fazer esse alguém gastar com o traje, gastar com o presente para o casal, gastar seu tempo ao sair de casa para ir à igreja e ... voltar para a casa meia hora depois?

Que horror! Se era para se exibir, por favor, fizessem por completo, ou então só chamassem os 300 para tudo oras! Que coisa mais feia.

Mas não é tudo (parte 2): na verdade, a mim nada interessa ficar sabendo disso tudo, quanto mais gastando meu latim com essa baboseira. Eu decidi escrever porque fiquei boquiaberta quando soube, através do mesmo jornal, que uma menina de 19 anos, cuja nacionalidade não me lembro, e francamente nem me importa (parece que é mexicana), estaria há 12 dias em greve de fome, dormindo em uma barraca na frente da embaixada britânica, para ver se convence a família real a dar-lhe um convite para o casamento. Juro por Deus!!! Eu ouvi sim! Agora me digam se não tem cara de piada ou pegadinha do Silvio Santos?

Onde e quando foi que as pessoas se perderam? Ou será que nunca se acharam na nossa ainda curta história aqui na Terra? Onde estarão os pais dela? Muitas perguntas, poucas respostas. Existem muitos exemplos de falta de amor próprio, de baixa auto-estima, auto-sacrifício como forma de pedir ajuda e inclusive desespero por chamar a atenção, que vão desde porres e micos inocentes, até seqüestros, homicídios e suicídios. Existem ainda inúmeras formas de se protestar por causas nobres, importantes e até mesmo essenciais. No entanto, este protesto ou tentativa de chamar a atenção, demonstrando tamanha falta de respeito consigo, em uma greve de fome por um motivo ridículo como a festa do príncipe, é de longe o mais vulgar, tosco e sem propósito que o valha que já tive a infelicidade de presenciar!

Enquanto centenas de pessoas morreram no Egito para libertar o país de um tirano ditador, outras centenas de pessoas morreram na Líbia pelo mesmo motivo, e milhares morrem de fome diariamente na África, na Cidade do México tem uma maluca correndo risco de morte por um raio de cerimônia, um mero ritual que não vai mudar em nada a vida de ninguém. Talvez a dela, para uma cova nem tão rasa, apenas a 7 palmos do chão, e em seguida para o Umbral dos suicidas.

Não sou a favor de nenhuma forma de violência, mas honestamente, morrer lutando contra a ditadura, contra algo que seja urgente, ou para salvar uma vida me parece até poético, digno, ao menos, e provavelmente esteja relacionado a um grande aprendizado para a humanidade que precisa perceber que o diálogo e a liberdade são nossa única salvação. Quanto à menina da greve de fome, não há nobreza alguma em seu gesto, ao contrário, há pobreza de razão. Há ainda, e isso é bastante importante de ser dito e discutido, um desespero que, sem dúvida é estimulado pela mídia, em se fazer presente ou ser parte de tudo, o que é humanamente impossível.

Tudo tem que virar reality show. Nossa vida sem ser notícia parece ter perdido o sentido. Ou estamos na rede ou somos das cavernas. Pertencer ao um grupo é preciso, viver não é preciso. Vale tudo para estarmos ‘antenados’. Tudo, até dar cabo da própria vida contanto que vire febre no you tube. Afinal, o que falta nessas pessoas? Eu arrisco dizer que falta desejo por si mesmas, vontade de se conhecer, sonhos reais e alcançáveis, paixão pela vida, busca por realização espiritual, muita bagagem político-social, isso só para começar.

Estas últimas gerações são de longe as mais despolitizadas e alienadas de que se tem notícia. Outro dia li um livro que falava justamente sobre isso, coisa que eu digo e repito há anos. Vivem apenas para satisfazer suas próprias necessidades. O outro? Quem? Nem sabem do que se trata. Inteligência emocional, resiliência, autoconfiança e paciência são somente palavras cujo significado muitos desconhecem. E se desconhecem a razão da própria vida, qual o sentido de estarem aqui? Nenhum, apenas consumir tudo, incluindo as outras pessoas, uma vez que tudo tem que ser para ontem, na velocidade de um clic. O casamento do príncipe nada mais é que a desculpa neste momento. Em outra ocasião surgirão novas idéias de auto-punição, humilhação e degradação pública. E onde ou quando vai parar? Também adoraria saber. Que esperança! Tem tanta coisa para fazer em tão pouco tempo antes que tantas vidas se percam de forma estúpida. E a caminhada é tão longa...
Imagem: Gerson Turelly

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Indiscutivelmente... Elvis

Esta semana inteira só o que fiz foi ouvir Elvis, repetindo os cd's um após o outro. É impossível cansar. Definitivamente ele não morreu, está tocando aqui na minha cabeça agora mesmo... ah que bom ouvir música boa, que faz um bem pra gente!
 
Para o meu querido amor: nós dois sabemos que todas as músicas de amor são nossas, e essa é uma daquelas especiais, por isso posto ela aqui em tua homenagem meu lindinho!


Surrender
When we kiss my heart's on fire
Burning with a strange desire
And I know, each time I kiss you
That your heart's on fire too

So, my darling, please surrender
All your love so warm and tender
Let me hold you in my arms, dear
While the moon shines bright above

All the stars will tell the story
Of our love and all its glory
Let us take this night of magic
And make it a night of love

Won't you please surrender to me
Your lips, your arms, your heart, dear
Be mine forever
Be mine tonight

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Da Minha Aldeia - Fernando Pessoa


DA MINHA ALDEIA vejo quanto da terra se pode ver no Universo....
Por isso a minha aldeia é grande como outra qualquer
Porque eu sou do tamanho do que vejo
E não do tamanho da minha altura...

Nas cidades a vida é mais pequena
Que aqui na minha casa no cimo deste outeiro.
Na cidade as grandes casas fecham a vista a chave,
Escondem o horizonte, empurram nosso olhar para longe de todo o céu,
Tornam-nos pequenos porque nos tiram o que os nossos olhos nos podem dar,
E tornam-nos pobres porque a única riqueza é ver.

Alberto Caeiro, em "O Guardador
de Rebanhos".