sábado, 9 de abril de 2011

IML - Imperceptível Miséria Lamentável

Nesta última sexta vi em um telejornal mais uma daquelas notícias bem cabeludas, difíceis de se esquecer. Seria bem cômica se não fosse bem trágica. É a respeito da situação periclitante do IML de Fortaleza. As imagens são absurdas. Os corpos estão amontoados, esperando por perícia, em macas, caixões de metal, alguns vestidos, alguns nus, alguns com a roupa íntima bagunçada, talvez em função de serem movidos, enfim, o caos.

Ao lado deles é possível ver facas (tipo de açougueiro), serras (tipo as usadas em casa mesmo quando se pretende consertar um cano), ou seja, nada que lembre, ainda que de longe, o material adequado para se fazer necropsia em um ser humano, independente de estar morto ou não. E não digo isto em tom irônico. Somos humanos mesmo quando desencarnamos e, portanto, merecemos respeito!

O lugar está pedindo socorro, as salas estão sujas, paredes com reboco caindo, entre outros problemas. Em se tratando dos vivos, trabalhar neste lugar também está terrível. Tornou-se perigoso à saúde permanecer ali, porque há o risco de se contrair meningite, hiv, e uma série de complicações causadas por bactérias.

Mas o pior está por vir: há corpos do lado de fora - não do lado de fora da sala como alguns possam pensar, e sim na rua mesmo! No pátio! São os corpos que estavam congelados e precisam ser “descongelados” sob o sol, com grandes chapas de metal em cima para aquecerem mais rápido, de modo que se possa efetuar a autópsia. A vizinhança é obrigada a conviver com o odor dos corpos já em estado de putrefação e com as imagens dantescas, uma vez que o pátio do IML não parece ser isolado com muros. É a cara do Brasil! Brasileiro sofre até depois de morto – e não é piada!

O registro das imagens foi feito em janeiro deste ano, mas segundo o sindicato dos policiais civis até agora nada mudou. A explicação é a seguinte: o local filmado é onde funciona (???) o Sistema de Verificação de Óbitos em Fortaleza, órgão responsável em verificar os corpos de pessoas que tiveram morte natural, porém o IML está em obras e as autópsias necessárias para casos de morte por meio de violência também estão sendo feitas no tal sistema de verificação de óbitos, ou seja, o que já era precário ficou ainda pior! O perito geral do IML alega que a perícia Forense segue funcionando normalmente e que, sendo assim, para ele houve apenas um caso de super lotação. Simples não é mesmo? É um homem prático ele. Admirável! Seria um caso de super lotação se a mãe dele estivesse lá? Duvido.

O Ministério Público já está a par da situação e, portanto, tomando providências. Resta-nos saber até quando isso irá continuar acontecendo. Estar em obras eu compreendo, imagino que seja difícil organizar um lugar quando se está fazendo reformas, mas nada justifica o ocorrido. Não se tratam de materiais que podemos trocar de sala ou jogar na rua, mas sim de corpos de pessoas que têm família, que têm outras pessoas esperando por notícias, sofrendo, chorando, desejando ter seu ente querido para um funeral, uma última prece, uma despedida digna!

Não se respeita o nascimento por aqui. As mulheres são mal tratadas no SUS(TO), desde o pré-natal, até o parto. Não há respeito. Não há vagas nos hospitais. Quantas ganham seus filhos dentro de táxis, ou mesmo no saguão por falta de leito. Quarto privativo e marido que possa assistir o parto são fantasia ou coisa de quem pode pagar(como tudo por aqui). Mas isso já é assunto para outro post. Apenas falo sobre isso por que se não há respeito ao nascimento como vai haver respeito à morte?? ‘Já foi, já era, tanto faz, antes ele do que eu’...tudo piada, tudo muito engraçado, pra bobo rir!

Eu aqui, até agora tentando achar graça para ver se consigo uma risadinha também, uma risada pelos impostos que pago e que não vejo utilidade alguma para tanto dinheiro arrecadado, uma risada pelas eleições e pelas promessas por saúde e amparo à sociedade, uma risada pelas ‘autoridades’ (i)responsáveis neste caso, uma risada pelo perito e sua percepção metálica, uma risada para não chorar diante de tamanha desconsideração por este povo já sofrido, mas não deu!


Está decretado, não se pode morrer em Fortaleza!



imagem: O Grito - Edvard Munch - Noruega - obra revelação do Expressionismo

Vídeo Fonte: http://noticias.r7.com/videos/imagens-mostram-o-descaso-das-autoridades-no-iml-de-fortaleza-ce-/idmedia/eef3df37aaaf936a402513b19e45e92d.html

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